Ainda é aurora

O que te fez a vida?

Quão pesada foi a mão do tempo?

que escupiu em tua tez uma franja de amargor

Como pôde o vento soprar tanta sujeira em teu coração?

Como os anos trocaram uma face límpida

alegre e feliz por um semblante caído, pálido e sombrio?

Foram as duras provas da vida quem te recobriu de capas

Capas obscuras e impermeáveis.

Pobre menina que ainda existe aí.

Pobre menina que não consegue mais correr,

por isso aprisionada numa figura triste envelheceu.

Àquela menina de sonhos, assaltada pela dura correção

corrompida por sua fraqueza, não soube revelar-se

Revelar-se não configura rebelar-se, pois,

quem se revela, apresentar-se tal como é.

Quem se rebela, abandona aquilo que um dia se tornou.

Agora veja menina, ainda há tempo para ti.

Ainda tocam valsas, ainda fabricam-se batons

Ainda há janelas

Ainda há escolas

Ainda existem amigas esperando por ti

Desce deste pedestal de amargura

despi-te desta alva de lamentação

vem para fora desta caverna de medos

aqui fora, o sol brilha e os pássaros cantam.

A idade, a maturidade, tudo o mais

são só fatos incontestáveis do tempo

Mas, fora o tempo e seus adereços

fora a dor e suas lembranças

há vida em teus olhos e sorrisos em teus lábios

Descarrega teu coração no próximo porto

despede-te das cargas que transportas pelas décadas

e leve, nua e sóbria segue levitando pelos dias

vai como uma libélula sem pregas e sem mágoas

tua juventude ainda alvora e tua existência ainda é aurora.

Mamamuchima
Enviado por Mamamuchima em 25/09/2014
Código do texto: T4976319
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