Auto fúnebre
Há quem diga uns chistes furtivos,
Pra quebrar o soturno palavrório;
Mas esses são só penetras motivos,
Face das almas inquietas dos vivos,
Pra abrandar o ambiente do velório...
normal na tristeza é sermos tristes,
o estado comum de sentir, contagia;
são estranhos no ninho tais chistes,
pois o Fado acusa de dedo em riste,
fica até deselegante certa alegria...
mas, o auto fúnebre do sonho difere,
ninguém se dispõe a chorar conosco;
não legam que a gente se desespere,
pior, nem notam a lâmina que fere,
os elefantes de andar pesado, tosco...
as frases feitas que jogam sem dolo,
na verdade só agravam o nosso mal;
desse fermento não resulta um bolo,
só atiram como propondo consolo,
testemunhas de sua preguiça mental...
a alma por si só rebusca seus meios,
se lhe falta orquestra, canta à capela;
vazios que os de fora supõem cheios,
só nossa, a morte de nossos anseios,
e pra isso, não existe choro nem vela...