LADEIRA
Descendo a ladeira da vida, ou subindo-a com tristezas ou alegrias;
Ele viu sua face no espelho do dia-a-dia;
A calçada que esteve sempre em seu caminho se cansou do gotejar de seu suor.
Os dias, as manhãs, as tardes, as noites; entre beijos, afagos ou açoites.
Seguiu o andarilho as coordenadas de seu mapa.
Sentiu o mancebo que os anos curvam o homem como a mão faz com o arco.
Mesmo assim, contrariando a força da gravidade, sem olhar a idade, o moço deseja novas passadas.
As coisas que se vão não voltam mais;
Novas são as batidas de seu coração.
A caminhada se renova na nova alvorada;
O sol alegre ou tímido convida o moço a mais andadas.
- Para onde vai o moço?
- De onde vem o mancebo?
A flecha rasga o ar quando atirada pelo flecheiro.
Nunca se sabe o que será do primeiro.
Nem nada se diz sobre o derradeiro.
Sabe-se que os homens se aquietam no final do dia.
Se se recordam das histórias antigas,
Ou de suas vitórias, conquistas, misérias e intrigas;
É porque o viajante nunca se farta.
O mundo para ele se alarga.
A terra se estica,
Somente as horas o detêm até outra aurora.
Nesse epílogo de todos os mortais;
As Dolores e as Rosas e as Marias, Eles e elas, as belas e as feias;
Os ricos e os pobres; todos se encantam deitados no chão.
Terra faminta que germina fruta, verdura, milho e feijão.
- Teu lar será um caixão!
- O que fizestes para merecer tão sórdida sorte?
- Desci a ladeira para viver a vida!
- Então saiba o conselho dos antigos:
“Lembra-te de teu Criador nos dias de tua mocidade, faça assim a cada pele que vestires, a cada suspiro deres, lembra-te Dele!”