Ventos poéticos

O vento sabe tudo esse malandro,

Até, que dele agora estou falando;

Conhece a vida e seus meandros,

Contudo, discreto, guarda segredo...

Vê a lingerie que a amada veste,

mais sóbrio que eu, ele não investe,

segue seu o impulso, ora, nordeste,

sabe tudo e não incha, é sem levedo...

vai varrendo papéis arrepiando penas,

ninando suave minhas flores pequenas;

como se ele quisesse acarinhar, apenas,

acarinha e segue buscando novos alvos...

moleque atrevido ergue a saia da menina,

furta um papel da uma velha na esquina;

parece gostar de ser um tanto traquina,

e sorrindo arranca ao chapéu dos calvos...

diz olá para os drogados e as prostitutas,

às vezes gracioso lhes apanha umas frutas;

escuta “en passant” muitas coisas fajutas,

segue serelepe com seus ouvidos moucos...

brinca jogando peteca com as secas folhas,

associa-se ao menino espalhando bolhas,

não partilha com sóbrios nas suas escolhas,

pois se dá bem, com lúcidos e com loucos...

Isso tudo, porém, se um bom vento o traz,

Sua infância e adolescência, diria, é de paz,

Pois, quando crescido algumas coisas faz,

Que nem são poéticas, a bem da verdade...

Sim, quando de mau humor é mui violento,

Pode arrasar nossos ninhos, num momento,

Contra isso adverte o antigo pensamento,

Que quem planta vento, colhe tempestade...