Poesia pré-datada

No banco das ideias a conta no vermelho,

a chuva sugere que eu tome empréstimo;

a inspiração não reflete diante do espelho,

e emprestada pesa o ágio de um décimo...

mas, quem disse que devo sacar a poesia,

quando meu saldo é insuficiente para isso?

O pródigo que desperdiçou ao que possuía,

Sai como filho e voltou mendigando serviço...

Nessas horas os vidros d'alma estão baços,

É inútil querer olhar o que há do outro lado;

E sem ver onde piso melhor deter os passos,

ver o dia passar mui lento no passo do gado...

as palavras e os atos qual os trilhos e o trem,

um para o outro, sem sobressaltos abruptos;

insosso ouvir dizendo pra corrupção não tem,

“tolerância zero”, diz; a rainha dos corruptos...

Poeta é mais que romântico, é um pensador,

expõe o coração e guarda o siso na casamata;

Quando sente tédio recusa-se a falar de amor,

Mas, se está amando, não versa sobre batatas...

Perdoem o uso de tantos insumos nesse caldo,

Oferendas várias qual despacho de macumbeiro;

Fui ao banco dos sentimentos conferir o saldo,

E descobri que hoje, não estou no meu dinheiro....