Encalhado

Essas certezas que escorrem entre os dedos,

quanto mais a gente aperta, mais elas caem,

são as renovadas sombras de nossos medos,

que viçam sempre que os raios solares saem...

o novo dia propõe deveras fazer um renovo,

com cantos de pássaros, esplendor de flores;

mas, nossas asas que sequer deixaram o ovo,

goraram encarando frio de velhos dissabores...

essa autocomiseração é uma grande miséria,

da qual infortúnio sorri por nos ter na palma;

sem esforço, apenas com grades da matéria,

o desgraçado aprisiona e retém muitas almas...

novos mares marulham chamando pelo barco,

águas de perder nossas vistas lindo horizonte;

a velha bússola teimosa apontando um charco,

segue magnetizada rumo ao frustrado aponte...

razão pleiteia para que creiamos só no crível,

usa o bom senso para desfraldar a vela nossa;

amor, besta encalhada no banco do impossível,

rebocador nenhum, pode destrancar essa joça...