SETENTA VEZES SETE

Contra mim

Apresentas o teu juízo.

Contra mim

Estendes a tua mão

E apontas, com teu dedo,

Um a um todos os meus tropeços.

Contra mim,

Trazes a balança da justiça

E pesas todos os erros cometidos;

Todo o mal que pratiquei

E todo bem que deixei de fazer.

Contra mim,

Só contra mim te fazes Juiz,

E decretas minha condenação,

Fazendo-me chorar de dia,

Que me farás pela noite, então,

Quando me assustam as trevas e a solidão?

Outros pecam e riem!

Eu tropeço e pranteio madrugada adentro,

Engolindo minhas lágrimas amargas,

Como espadas afiadas

Partindo o âmago de minha alma.

Outros pecam e riem!

Tripudiam sobre meu corpo

Como quem pisa um tapete vulgar

Estendido por vós diante deles.

Contra mim,

Só contra mim envias teus anjos vingadores

Sol ardente,

Brisa gélida,

Tormentas, trovoadas e vendavais,

Só contra mim, a ninguém mais.

Teus primogênitos gigantes,

Encharcados de sangue alheio

Contam hinos de vitória.

Mas contra o teu menino,

Desferes os golpes do destino,

Contra mim,

Contra mim, somente,

Arrancas a raiz, o fruto e a semente!

Se és tão justo,

Por que, para o meu desgosto,

Quase num susto,

Não antecipas o meu juízo final?

E

Qual

Então, é o meu mal?

Não sou anjo, nunca fui santo,

Sou homem, afinal!

Se me querias perfeito,

Por que me fizestes de nervos e carne?

Ai de mim,

Pobre poeta pecador!

Jonas De Antino
Enviado por Jonas De Antino em 20/08/2014
Código do texto: T4930145
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