O sanguessuga
Descaminhos de nossos medos,
Fomentam as pegadas da fuga;
cada um sonho, que nos aluga,
Inadimplente sofre o despejo;
Por que temor aborta o desejo,
Na face da vida mais uma ruga,
Pois, esse Drácula sanguessuga,
toma as chaves entre seus dedos...
Na verdade se nosso o dizemos,
apenas um hábito da linguagem;
Nossa, pensamos ser, a coragem,
Que é o outro lado dessa moeda;
Alguma força, contudo, a arreda,
Ou, o medo consegue passagem,
Pintando de real a sua miragem,
Aí, miramos perigo que não temos...
Resulta o clássico medo da chuva,
Posto que ela renova à natureza,
Cada gota traz um quê de riqueza,
nós corremos a buscar um abrigo;
Que brote a oliveira, mesmo, o figo,
Flores espalhem alhures, a beleza,
uma prioridade indevida à tristeza,
a virgem assume vestes de viúva...
medo; assalto da alma, escuro feitiço,
cores da tarde pintando o dia cedo;
sucumbimos ante esse engano ledo,
mui retraídos, nada a gente arrisca;
uns veem perigo se a galinha cisca,
ou um gato preto lhe cruza o enredo,
quisera dar um pé na bunda do medo,
daria, não fosse o medo de fazer isso...
o arquiteto de nossos problemas,
de um ponto fraco labuta à procura,
encena mesmo que a luz seja escura,
perverte o senso frágil do nosso tato,
para que quando apalparmos o fato,
ele impregne em nós a sua leitura,
por isso o que mais repete a Escritura,
é um Divino e alentador: Não temas!