Sombra que ilumina
Ainda sou uma sombra. Sobra;
Coisa que restou de todos os tempos.
Como não sei até onde,
Tampouco até quando vou,
Encho os ares dos templos com os meus ais
E as minhas orações batem no forro.
Demasiadamente humano, animal,
Uso a razão por conveniência;
Mas quando o bicho pega sou gente;
Choro a causa das viúvas,
Mesmo as de maridos vivos.
Lamento a ignorância e o eufemismo,
Quando falar a verdade se torna preconceito;
Minha peneira não tapa mais o sol;
Aliás, nem as minhas noites escurecem
Os mil tons do astro rei.
Quando pego as meninas só por prazer,
Sou igual a todos os outros animais
Que exploram o falso cio do coito anal;
Porém, quando as respeito e apenas as amo,
Chamam-me de veado e de outros bichos.
Minha flagrante incompletude
Mostra o meu constante devir.
Quando eu estiver completo, aí sim,
Não terá mais graça e, nesse romance,
No qual eu sou protagonista,
Descobri que o herói, sempre sai morto.
Não me caso com a filha do rei,
Também não defendo o seus interesses
Às vezes, penso que será bem melhor
Matar a rainha e me casar,
Sem festa nenhuma, com a dragoa;
Aquela que mora na floresta desencantada
Onde as mãos do governo não alcança
Lá onde bandidos e polícia morrem de medo.
Cacá Matofino