Sombra que ilumina

Ainda sou uma sombra. Sobra;

Coisa que restou de todos os tempos.

Como não sei até onde,

Tampouco até quando vou,

Encho os ares dos templos com os meus ais

E as minhas orações batem no forro.

Demasiadamente humano, animal,

Uso a razão por conveniência;

Mas quando o bicho pega sou gente;

Choro a causa das viúvas,

Mesmo as de maridos vivos.

Lamento a ignorância e o eufemismo,

Quando falar a verdade se torna preconceito;

Minha peneira não tapa mais o sol;

Aliás, nem as minhas noites escurecem

Os mil tons do astro rei.

Quando pego as meninas só por prazer,

Sou igual a todos os outros animais

Que exploram o falso cio do coito anal;

Porém, quando as respeito e apenas as amo,

Chamam-me de veado e de outros bichos.

Minha flagrante incompletude

Mostra o meu constante devir.

Quando eu estiver completo, aí sim,

Não terá mais graça e, nesse romance,

No qual eu sou protagonista,

Descobri que o herói, sempre sai morto.

Não me caso com a filha do rei,

Também não defendo o seus interesses

Às vezes, penso que será bem melhor

Matar a rainha e me casar,

Sem festa nenhuma, com a dragoa;

Aquela que mora na floresta desencantada

Onde as mãos do governo não alcança

Lá onde bandidos e polícia morrem de medo.

Cacá Matofino

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 18/08/2014
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