L E M B R A N Ç A S
Como certa vez nos disse
Aureliano Figueiredo Pinto,
que Deus levou cedo
era hora de "Ave-Maria":
- da meia noite para o dia
um guasca não dorme mais –
ontem foi longa demais
no Camboatá eu amanhecia.
E a Querência topetuda
batendo cascos chegou,
minha alma se transmudou
me vi guri novamente,
numa noite escura e quente
p'r pirilampos dominada,
aquela criança assustada
seguia junto a um parente.
Era o Antoninho Padre
meu tio-padrinho o tal,
levando-me para um arraial
lá em Santa Catarina,
ainda guardo na retina
pois andava cheio de medo,
olhos fechados "segredo"
do menino da campina.
Foi com o mesmo padrinho
lá em Lages, certa feita,
numa curva pra direita
passavam carros, num pó,
numa nuvem carijó
fazendo zoada maluca,
parecia gente caduca
numa roda de rapó.
Lembro-me bem vagamente
quantas manhãs, geada fria,
morávamos n'ma serraria
lá no Planalto Lageano,
estava com poucos anos
bem longe, ia buscar o leite,
era meu grande deleite
andar no solo pampeano.
Primeiras escaramuças
roseteando uma potranca,
das que têm redonda a anca
dando certo pro rabicho,
nasceu dali um cambicho
repetido em alguns dias,
na hora da cesta macia
ela mais eu: um namoricho.
Depois, quando o destino
sem querer nos separou,
só a saudade ficou
da brincadeira inocente,
nós queríamos fazer gente
no lupanar da campina.
Juntinho à minha menina
lembro-me das tardes quentes.
E subindo o Rio Santana
anos passados depois,
longe das juntas de bois
vaqueano agora das águas,
esperas pra peixe armando
com o meu espinhei ou anzol.
Sabia separar terol
duma mazurca chorando.
Eu começava a entender
e conviver c'a natureza,
a favor da correnteza
era meu nado sereno,
desde cedo, bem pequeno
vadeando o rio a nado,
saindo fácil do outro lado.
Da cobra extraia o veneno.
Assisti as primeiras fitas
ainda do cinema mudo,
a minha atenção era tudo
pras cenas doidas na tela,
a mocinha era mui bela
de cabelo bem penteado,
caindo meio assim, para um lado;
morena cor de canela.
Homenagem Póstuma a meu
Padrinho "Antônio Padre
e toda a família, Reni.