O CALABOUÇO DOS INOCENTES

São tantos

em todos os lugares

os inocentes dos homens

prisioneiros do destino.

Perambulam errantes

se encontram com

o imponderável

os inocentes dos homens.

Vítimas das inconseqüências,

órfãos da inconsciência

vivem no mundo todo

perto e dentro de nós.

Sentimos suas presenças,

não percebemos nossas ausências

e fechamos os olhos

para o que não queremos ver.

Omissão coletiva

passividade criminosa

os inocentes existem

ante nossa cegueira conveniente.

Desde as falcatruas

dos políticos parasitas,

às agressões violentas

sofridas da polícia.

Os inocentes vêm e vão,

nós ficamos sempre

impassíveis, inertes,

diante deste dragão.

Objeto de desdém

opção: sequer têm,

cavam em cada rua

suas próprias sepulturas.

Cavam a cada dia,

sua crescente melancolia,

cavam todo momento

sem esperança, só desalento.

O Calabouço do inocentes,

está nas guerras quentes,

mas idem nas frias,

quando não matam, mutilam gente.

Será que gente são?

Os inocentes da África,

do Congo, Afeganistão,

das ruas e favelas do brasilzão?

Não temos por eles

piedade nem dó,

covardes fugimos

da crua realidade.

Não vemos nem condenamos

os culpados deste holocausto.

Aqueles sem consciência

se dizem ser humanos, nós.

A cada inocente que morre,

morre também um pedaço

da vida, da Natureza,

o mundo fica opaco, sem beleza.

Precisamos nos penitenciar,

aos inocentes ajudar,

deixar o orgulho de lado,

pagar cada nosso pecado.

Meninos e meninas,

mulheres e homens

vivem neste mundo descrente

e em cada um de nós,

o real Calabouço dos Inocentes.

São Paulo, 19/05/1997

OneAlone
Enviado por OneAlone em 09/08/2014
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