NA MÁQUINA DO MUNDO
                                                                      Para Jorge
 

Na máquina do mundo em mim
eu cri, por largos anos,
depois foi tudo enferrujando.
 

Cadê em mim a máquina do mundo?
Nem máquina nem mundo
nem mesmo mim
 

que tudo foi errando
até errar de vez por todas.
Hoje, o que não é só fica olhando.
 

Mim, máquina, mundo
ainda aqui e ali umas saudades
todas embaralhadas
 

como baralho preparado
para jogo sem regras nem parceiros
e no entanto
 

parece que só mim não joga
- mais um engano
que é tudo engano.
 

Mim, como tantos, joga
o jogo de não jogar
como tantos, legião.
 

Não há engano maior, de maior dano
a esse mim, a essa legião de mins
que não sabe o que vê nem o que não
 

Esse mim que – ai de mim –
ainda se lembra, entre as poucas lembranças,
que balada é tipo de poesia
 

esse mim que se queda
de manhã  à noite
a olhar a janela.
 
 
P.S. Este poema não fala só de questão psicológica pessoal: fala um pouco mais e é linguagem, também. 

 
Escrito na manhã de 18 de março de 2012.
Republicação.