MADRUGADA
Na madrugada do tempo
eu me adentro com saudade,
que puxa! Barbaridade
o que é que eu tenho no peito?
Ergui-me há muito do leito
pois o sono me fugiu,
mas o pinho me seguiu
me acompanhando com jeito.
E canta meu peito, canta
as coisas da madrugada,
na coxilha: a clarinada
dum quero-quero mui atento,
anunciou nesse momento
como rufos de tambores,
alegrias e dissabores
que nos vêm soprado ao vento.
Patrão velho celestial
tenência estes meus versos,
são gados, que dispersos
vou pealando com carinho,
como o galo, meu vizinho
numa sinfonia de mestre,
uniu ao poleiro campestre
sua companheira e o filhinho.
Lá puxa! Como é gostoso
chimarrear na madrugada,
recorda-se a china amada
ungindo ao seio o porongo,
parece quando me alongo
num pealo de toda a cola,
pensar que me descontrola
quando me chego prum biongo.
Em cada gole que sorvo
sentindo o sereno à face,
é como se me voltasse
num berro macho de touro,
corujas trazendo agouro
num lamento em procissão,
querendo a Tradição
abandoná-la ao desdouro.
A! Se o Aureliano estivesse
agora no meu costado,
ombro a ombro, lado a lado
andaríamos na campanha,
golpeando tragos de canha
ao pé do fogo de chão,
defendendo a Tradição
do ódio de gente estranha.
Quem não ama a madrugada
dum céu limpo azul-escuro,
prevê-se até o futuro
de esperanças e ilusões.
Porém, quando os trovões
cortam a silente noite,
é bem pior do que o açoite
da era das escravidões.
O Tio Valdomiro, é certo
na andança celestial,
domou e meteu o buçal
nos pingaços caborteiros,
mostrando ser mui folheiro
vai preparando o terreno,
da vida, um pouso sereno
para a ida dos carreteiros.
Mas, já se foi a madrugada
e o sol começa a surgir,
eu quero me despedir
para voltar outro dia,
numa madrugada fria
para meu pala eu usar,
e então poder comparar
as glórias desta cria.
Não quero morrer de doença
de velho eu quero morrer,
somente para poder
andejar sem ter parada,
eu quero a bandeira içada
como “Trinta e Cinco", à frente,
então morrerei contente
que seja de madrugada.