Alcateia.

Bem vinda ao teu sonho abafado, bela moça.

Se sente tão bem num mundo tão indiscreto,

mal sabe que a maldade lhe espia contente,

e mora nos olhos de quem diz lhe bem querer.

Idolatra os lobos carniceiros que lhe caçam,

entregando-lhes de bandeja a carne fresca.

Condena as ovelhas sensatas que lhe repudiam,

e diz, por estupidez, ter elas carne mal amada.

Mal amada é tu, bela moça, e não percebe.

Se acaba nas noites de alegria, iludida,

nas patas tortas daqueles que lhe despedaçam.

Acha que o fardo, assim, há de ficar leve.

Orienta-te, bela moça, não se afogue.

Não são os traços mais vistosos que a alma:

tanto te ilude com quem pouco lhe gosta,

pouco te encanta com quem muito te ama.

Felipe Conti
Enviado por Felipe Conti em 05/08/2014
Código do texto: T4910105
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