Alcateia.
Bem vinda ao teu sonho abafado, bela moça.
Se sente tão bem num mundo tão indiscreto,
mal sabe que a maldade lhe espia contente,
e mora nos olhos de quem diz lhe bem querer.
Idolatra os lobos carniceiros que lhe caçam,
entregando-lhes de bandeja a carne fresca.
Condena as ovelhas sensatas que lhe repudiam,
e diz, por estupidez, ter elas carne mal amada.
Mal amada é tu, bela moça, e não percebe.
Se acaba nas noites de alegria, iludida,
nas patas tortas daqueles que lhe despedaçam.
Acha que o fardo, assim, há de ficar leve.
Orienta-te, bela moça, não se afogue.
Não são os traços mais vistosos que a alma:
tanto te ilude com quem pouco lhe gosta,
pouco te encanta com quem muito te ama.