O Tálamo

O tálamo é sagrado

e nele não se esparramam

outras costas, não roçam outros pés

e nem puxam lençóis outras mãos trêmulas.

Há de se manter sempre o mesmo odor,

que exalam das mesmas fontes.

É necessário para a paz no tálamo

a regularidade de sujeira,

manchas laváveis e surdas,

febre e atletismo.

É recomendável que a madeira estale

como a lenha em dia de cozido na roça.

Estar-se-á por esta razão eximido

de qualquer crime ambiental.

Deixe a madeira cantar aguda e desafinada.

Mas não é este pedaço um território de ninguém.

Não é zona de conflito.

É país democrático e sem preconceitos.

Área de proteção sentimental.

Outros leitos talvez sejam adequados

Para ringues de vale-tudo

e outros experimentos diversos

mas o tálamo não.

Nele o limite é para dois

numa matemática e química perfeita.

E se o dois for de duas metades,

és um tálamo sagrado

e filial do paraíso.

Ricco Salles
Enviado por Ricco Salles em 04/08/2014
Reeditado em 09/07/2018
Código do texto: T4909131
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