Crime Contra o Alvadio

Estou em frente a uma folha em branco

que me assusta, me custa encara-la.

Talvez eu a suje com letras

que poderia não ter reunido

pra formar palavras que falhem no sentido

de explicar o que não foi vivido,

ou não correspondido, o fleuma deste espírito.

A folha limpa...

Acho um crime inafiançável contra alvo objeto,

deflorar sua pureza com queixumes,

em forma de letras escuras, que tiro do peito

expelindo-as pelos dedos, friamente.

E assim, como um cenário de qualquer crime,

na calada da noite eu respiro fundo

o quanto posso, onde cabe um minuto,

e disparo rajadas de palavras amargas

contra inocente vítima, outrora branca.

Assim, consumado o ato vil, nada termina.

O alvo papel agora viverá para sempre,

em resposta contrária ao meu objetivo,

o rancor expelido volta comigo,

enquanto dou as costas para a vítima,

vou me deitar com o dobro do fardo,

com o ato do crime registrado em cartório,

e a pena de sentir no peito

tantas outras palavras escuras.

Certamente haverá outras alvas vítimas.

E tantas outras experiências duras.

Ricco Salles
Enviado por Ricco Salles em 02/08/2014
Reeditado em 09/07/2018
Código do texto: T4906305
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