FUNDAMENTAL É A LAVAGEM RETAL!
Manhã seguinte. Sol estridente.
Já veio a ressaca e o porre ainda não passou
De todo. O navio do mundo cambaleia e
Balouça ao sabor dos maus humores, dos maus
Amores e de outros mares, outros males.
Ó, o amor! Fundamental é o amor?
Não. Fundamental é a lavagem retal!
O resto... É negociável.
Afinal, as maiores delícias do fêmeo corpo
Com duas letras é que se grafam.
Mas uma destas não requer lavagem recente,
Senão, pelo contrário: algum leve buquê
Entre cítrico e derivado do leite.
Manhã seguinte. Golfinhos saltam à minha volta;
Um polvo rugoso, de cem ventosas, se des-pren-
De mole dalguma pedra de musgos, sei lá onde.
Mas o fundamental é a lavagem retal;
O resto é negociável, explicava eu.
Sim: há que negociar!
O que é DR, senão liberalismo pré-cama?
O meu mais arraigado valor antiburguês
Pelo teu mais inflacionado e caríssimo bem.
Isso acordado entre as partes, até falo inglês!
Strictly business, direi!
Nas férias irei contigo a Nova Iorque
— só Miami Bitch é inegociável.
E a Disney: não negarei Suassuna!
Sentar-me-ei à mesa dos medíocres
Oportunistas; comungarei da sua idiotia,
Contarei onde comprei o terno, saberei
Quanto gastaram no Natal, na reforma.
Só não me falte, amor, com o tal
Bendito procedimento.
Quero testemunhá-lo, presidi-lo
— Obrado em quatro ou cinco etapas mornas,
Que findem com o besuntar guloso, tenro
Da pasta ou do creme, sabe Deus,
Que tem sabor de amêndoas anticéticas
E é de todo em prol do cético, esfomeado de flor.
O amor não redime, não engrandece,
Não emagrece: traz mais apetite noturno
Do que queima calorias, convenhamos.
O amor? Não é eterno, nem é do belo:
Não para além de um patê de coelho
Ou de um mais trivial bife a cavalo:
Puro apetite e pulsão ignara.
Inventou-o a evolução, no seu afã
De mais carne, mais continuidade e mutação;
Não o Coração, não a verve ou a Lira.
Inobstante..., ora, essa vontade de dizê-lo
(Eu te amo, eu te amo); vontade ambarina,
Escocesa, estranha e estrangeira a mim,
A alimentar o bailar de dois peixes palhaços,
Loucos por entre os tentáculos da anêmona
Imunes que são ao seu veneno.
Igor Buys
(heterônimo Gregório Ivo)
25 de julho de 2014
Manhã seguinte. Sol estridente.
Já veio a ressaca e o porre ainda não passou
De todo. O navio do mundo cambaleia e
Balouça ao sabor dos maus humores, dos maus
Amores e de outros mares, outros males.
Ó, o amor! Fundamental é o amor?
Não. Fundamental é a lavagem retal!
O resto... É negociável.
Afinal, as maiores delícias do fêmeo corpo
Com duas letras é que se grafam.
Mas uma destas não requer lavagem recente,
Senão, pelo contrário: algum leve buquê
Entre cítrico e derivado do leite.
Manhã seguinte. Golfinhos saltam à minha volta;
Um polvo rugoso, de cem ventosas, se des-pren-
De mole dalguma pedra de musgos, sei lá onde.
Mas o fundamental é a lavagem retal;
O resto é negociável, explicava eu.
Sim: há que negociar!
O que é DR, senão liberalismo pré-cama?
O meu mais arraigado valor antiburguês
Pelo teu mais inflacionado e caríssimo bem.
Isso acordado entre as partes, até falo inglês!
Strictly business, direi!
Nas férias irei contigo a Nova Iorque
— só Miami Bitch é inegociável.
E a Disney: não negarei Suassuna!
Sentar-me-ei à mesa dos medíocres
Oportunistas; comungarei da sua idiotia,
Contarei onde comprei o terno, saberei
Quanto gastaram no Natal, na reforma.
Só não me falte, amor, com o tal
Bendito procedimento.
Quero testemunhá-lo, presidi-lo
— Obrado em quatro ou cinco etapas mornas,
Que findem com o besuntar guloso, tenro
Da pasta ou do creme, sabe Deus,
Que tem sabor de amêndoas anticéticas
E é de todo em prol do cético, esfomeado de flor.
O amor não redime, não engrandece,
Não emagrece: traz mais apetite noturno
Do que queima calorias, convenhamos.
O amor? Não é eterno, nem é do belo:
Não para além de um patê de coelho
Ou de um mais trivial bife a cavalo:
Puro apetite e pulsão ignara.
Inventou-o a evolução, no seu afã
De mais carne, mais continuidade e mutação;
Não o Coração, não a verve ou a Lira.
Inobstante..., ora, essa vontade de dizê-lo
(Eu te amo, eu te amo); vontade ambarina,
Escocesa, estranha e estrangeira a mim,
A alimentar o bailar de dois peixes palhaços,
Loucos por entre os tentáculos da anêmona
Imunes que são ao seu veneno.
Igor Buys
(heterônimo Gregório Ivo)
25 de julho de 2014