Poema de proveta

Às vezes um poeminha nos chuta,

Por causa da pressa de sair à luz;

contudo, só serve madura a fruta,

Arte é bem que não aceita pemuta,

cobra dos filhos, que lha façam jus...

assim, tempo do parto nos escapa,

surpreende quando a bolsa rompe;

o poema nasce cambiando o mapa,

assim que recebe na bunda um tapa,

chora a alma, um novo pulso irrompe...

de tal modo ao menos se dá comigo,

perdoem-me se tal símile soa bronco;

poema germina como grão de trigo,

cortam e atam pra cicatrizar o umbigo,

e ainda guardam as tais células tronco...

parece ter certa magia nas ditas cujas,

que regeneram a todo tipo de tecido;

folgam com seus traços poetas corujas,

nesse público lavar das roupas sujas,

gotejam talento, amaciante preferido...

Como cortar cabeças da Hydra de Lerna,

Seria intentar que tal maneira sumisse;

sobre inspiração e talento quais pernas,

poeta, excêntrico que congela esperma,

para ter mais filhos ainda em sua velhice...