ESPELHO QUEBRADO

Uma tempestade de rosas

Passam por minha cabeça,

Um mar de rosas

Passa por mim.

Eu tenho uma foto

Preto e branco.

De terninho cinza

Caminho pelas vielas

Da America do sul.

O rio prata me chama,

Minha chama.

Quando estamos por aqui

Lembro da cela na prisão,

Braços longos,

Lábios finos,

Pernas fortes,

Olhos negros,

no cabelo uma flor

e um buque na mão.

Agora que temos

Essa cidade nas mãos.

Que baile o povo,

Que baile o povo.

Procuro uma saída,

Uma saída.

Espero um grito

Perfurado por balas da policia publica.

A saída,

Há saída?

Preciso de um coração,

Sem maldades,

Preciso de um coração

Cheio de amor,

Esperança,

Sonhos,

e uma causa.

Eu sou um poeta sem causa.

Não quero nem saber

O que os médicos pensam.

Quero uma cerveja gelada,

(eu odeio cerveja).

Minha tosse esta seca,

“Tenho tesão por

Zizi Possi.”

Não tenho sua posse.

Fui á caixa econômica fazer

prova de vida,

“Fiquei na fila do caixa

Por quatro horas e me deram

Uma certidão de óbito

Por minha presença”.

Professor você esta ai?

Me dé a sua lição.

Qual lição?

“Você foi embora

Sem falar o que dizer”.

A cirrose é uma rosa

Que flutua entre

O rins e o umbigo.

Não quero ver tv

Inale o poema,

Cuspa o poema

Sobre o sangue H positivo.

Gritos na escada,

Vassouras varrendo

A rua repleta minhas guimbas

De câncer radioativo.

Poupo meus ossos

E vim ao seminário.

Eu corri pelas ruas,

Corri.

Balas de menta

esquentavam meus cabelos.

Corri,

El corri.

No terraço de alvenaria

Bailei com minha mãe.

Pulei muros,

Cercas e viadutos.

Bailei com minha mãe

No terraço de alvenaria.

A menina do quaro andar

foi á escola.

Teve tiros,

Teve poeira subindo

Aos seus pés no beco

Esquina com avenida Liege.

Temos tanto medo da noite....

As onda bate no bar

O bar meio bêbado,

Bate.

Bate o sol.

Meio dia, meio dia.

Meu fígado diz basta,

Um cofre pinga sobre mim

Suas notas de ferro.

Feroz rosna a noite.

Eu cinqüenta anos,

Quatro filhos,

Uns netos espalhados por ai

Como as pedras da rua.

Ultimamente ando esquecido

Pelos os cantos dos becos.

Agarro as peruas na rua,

Beijo seus mamilos

E ganho alguns reais

Para me embebedar

Nos bares desta cela

Repleta de ruas.

Roubo um pão.

Aonde anda bidiago,

Iço e didão?

Subíamos nos alcaliptos

Da renascença á procura de

Sobras de comida e pão velho.

Cirrose, rosa roxa

Que consome minha opera.

Esse teatro é meu,

Sou seu único amigo

E estou no inferno.

cadeiras viradas, copos

quebrados.

Ossos tortos,

Veias retorcidas,

Nervos trincados.

Lamina de gilete.

Espelho opaco,

Espelhos.