O dilúvio

Passarinhos que aninham nos beirais,

Estão cheios de motivos para cantar;

ignoram que é inverno esses animais,

e estão todos a plenos trinados quais,

quando ensinavam a sua prole a voar...

meus bichos internos silentes, porém,

mesmo que o clima imite primavera;

do sonho pretérito a real está aquém,

e novos anelos estacionados também,

ruim quando até o sonho, alma espera...

águas dos anseios de antes, desiludidos,

poderiam volver, pois, isso o ciclo abarca;

um dilúvio de prazer ainda desconhecido,

submergiria a geração de anelos perdidos,

todos os bichos entrariam na mesma arca...

O “nós” sai da fila deixando apenas eu e tu,

Desconhecendo, suponho, tentadora delícia;

É só terra firme, um recomeço sóbrio e cru,

após umas e outras, Noé está bêbado e nu,

o desgraçado do Cão, ainda espalha a notícia...

foi que ela ignorou as asas com medo do salto,

desconheceu que é possível com leveza pairar;

minhas posses compensam naquilo que falto,

sei que tê-la em minha cama foi pico mui alto,

mas, era daqui de cima que lha ensinaria a voar...