Minha casa

O que fazer agora, o que pensar de mim

Como irão me julgar os pudicos?

Se o que sou agora é mero eufemismo do eu

Se penso chuva, é trovoada, quero no céu os querubins

E que essa seja minha distorcida visão, merecida

A palma no ritmo certo, a vaia para a torcida

O extravasar do grito rouco, a mão estendida

Desculpe quando não supri a expectativa

Foi um desmoronar sem medida, as faixas

Que me xingavam, hoje estão todas dobradas

Amanhã, quem sabe, estendidas

Enquanto isso faço minha própria nação

Um lugar para amar sem limites e hipocrisia

Onde existir é mera questão de ser

Coadjuvante da arte, de Deus a cria

Alguns pessimistas dizem que morarei só

Que seja

Aproveitarei sozinho o egocentrismo louco

De uma terra para mim

Mas nada disso vale, tudo fogo de palha

De uma oca fria e vazia

Acho que lá seríamos todos nus

E o pudor mera questão de opinião

Apontaríamos dedos sim, para o céu estrelado

Tudo seria muito azul

E como quem não quer luxúria tudo seria branco

Não me acostumo a misturar cores

Essa sinestesia louca dos barrocos

Sou campestre demais para “locus amoenus”

E quais rebanhos irei pastar, serei lobo solitário

Se o que disserem de mim colar, é tudo praga

Vão todos morrer de tentar

E eu, insistentemente estarei lá

Aplaudirei

Rirei

Embolarei no chão

Ó palhaços, galhofas, chacotas de mim

Desculpe ainda as crianças que pouco se agradaram

Na minha terra não teria lugar para doces

Teríamos medo de cáries...? Não! Apenas masoquistas da situação

Se é pra fazer um mundo sem julgar

Fico na Terra mesmo, o Olimpo há de me subjugar

E eu, tão troiano trairei a estranha mania terráquea

Que é escapar da realidade a tragar...

Gabriel Amorim 13/07/2014