A Queda Incurável do Homem

Deus: Nós não sentimos mais nada, perdemos a fé até em nós mesmos;

Não acreditamos mais em fatos, nem em teorias;

Nossos sentimentos estão afogados, nossas ideias estão contaminadas: somos apenas vácuos tentando desesperadamente disfarçar que tudo está bem, mas é mentira: nós não estamos bem, nós não sabemos de porra nenhuma, porém rimos e falamos, choramos e fingimos, amamos e voltamos para casa tão hipocritamente. Isso é viver? O que estamos fazendo?

Deus: vivemos sempre fugindo de tudo_ nos escondemos em turmas de amigos,

Escondemo-nos em modas, escondemo-nos em falsos sorrisos,

Escondemo-nos em festas com tantas gritarias e brincadeiras;

Trancafiamo-nos em garrafas de bebidas e de dogmas falsos;

nos engavetamos em igrejas ou em nossos lares como se fôssemos puros de coração,

Mas sempre estamos fugindo de nós mesmos.

O que nós somos, meu Deus? Quem nós somos?

Estamos sempre mendigando por olhos que saibam nos enxergar, sempre mendigamos por ouvidos que tenham coragem de escutar os nossos segredos,

Que saibam guardar as nossas invejas, e os nossos medos;

mendigamos por um amor que nos faça esquecer as misérias que ocultamos debaixo do assoalhos de nossos corações;

mendigamos por novas chances, por novas alegrias, mas do que tudo isso adiantará?

Deus: pensamos que sabemos como viver, mas não sabemos de nada;

Desaprendemos a como chorar com os olhos da alma,

Perdemos nossos dias em lutas ridículas por poder e por conquistas;

Pedimos paz, mas nosso próprio ego sempre está em guerra consigo mesmo,

Não compreendemos por que insistimos em nos iludir com tantos trajes, lâmpadas, portões, latidos, jornais, panfletos, músicas, livros e crenças falsas;

A vida é somente agora manchetes sangrentas de nossas falhas,

de nossas descobertas, de nosso belo mundo acadêmico, pérfido e virtual.

Deus: por que somos tão perversos? Seja motivados por amor ou por ódio, seja motivado por qualquer ideologia ou por qualquer sentimento mesquinho,

Continuamos a derrubar, sentimos prazer em matar, em enterrar nossos semelhantes com calúnias, sentimos êxtase em invejar, em enganar, em machucar, em julgar os nossos semelhantes.

Deus: somos mesmos os donos de alguma verdade por acaso?

Somos os juízes incorruptíveis de leis divinas e irrefutáveis?

Somos pais ou amigos ou pessoas exemplares que nunca erram e que nunca se enganam?

Não, não somos. Somos os embaixadores de novas chacinas,

Somos os apóstolos do caos a disseminar intrigas, preconceitos e separações;

Somos os profetas da mentira sempre convictos que estamos certos,

Sempre convictos que os outros são inferiores,

Lavando as mãos e os pés de presidentes corruptos, de religiosos homicidas, ou de qualquer outro que possa elevar e enriquecer os nossos patrimônios, os nossos egos e contas bancárias.

Vede, meu Deus: adolescentes roubando lotéricas e comércios a fim de cheirar cocaína atrás da igreja central,

Garotas de treze anos se prostituem nas orlas da manhã e sobre os braços da noite,

Entram em carros luxuosos e em casas suntuosas,

e elas já não sabem mais sentir suas próprias almas tão devastadas, violentadas e maquiadas,

e aprendem a sorrir, e vendem os seus próprios filhos

Por um cachimbo com crack ou por pensões alimentícias;

Jovens se cortando e se mutilando a fim de tentar sentir algo que não conseguem exprimir,

O redemoinho da tristeza e da depressão aumentando o índice de antidepressivos e de suicidas,

E essa roda-gigante de angústias e sofrimentos parece nunca ter fim,

Mas não se mata a DOR com a morte, não se mata a SOLIDÃO com festas, folias, canções e com outros narcóticos,

Pois por mais que nos escondamos, nunca conseguiremos fugir do que sentimos, não se consegue escapar de si próprio.

Por que, meu Deus, por que somos tão covardes, tão cruéis e narcisistas? Por que fingimos nos importar com quem sofre, quando nem existe amor em nosso coração?

Por que repetimos frases e versículos de tua palavra,

se nossa mente está tão distante do teu coração?

Por que falamos e falamos tanto em AMAR, se não estamos nem dispostos a perdoar nossas próprias fraquezas, que dirá a fraqueza alheia? Por que te louvamos tanto, se com os mesmos lábios condenamos e amaldiçoamos tantas pessoas feitas a tua imagem e semelhança?

Deus_ por que não conseguimos sentir mais nada?

E nós preenchemos os nossos vazios com roupas, viagens, academias e shopping;

Preenchemos nossos vazios com mais sexo e por mais buscas compulsivas por prazeres;

Preenchemos o nosso tempo sempre fugindo da rotina e do tédio,

Preenchemos as nossas almas com mais fome, com mais sede, com mais dinheiro, com mais hipocrisias nos beijos e abraços,

preenchemos os nossos vazios com novas mesas, copos e pratos tão vazios de sentimentos verdadeiros, leais e autênticos.

Deus: já não sabemos fazer nada de boa vontade e nem espontaneamente;

quanto te clamamos, ou ao darmos esmolas, ou até em nossos gestos e comportamentos aparentemente cheios de ternura, sempre escondemos o nosso egoísmo;

Sempre escondemos as nossas verdadeiras intenções,

Sempre escondemos o nosso rosto verdadeiro o qual já se perdeu dentro de nós mesmos;

E acreditamos ser quem na verdade nunca fomos,

E a Mentira é o leme, o vento, os oceanos, o mapa, e o navio de nossas vidas.

Deus, eu te confesso: eu nunca quis ser um erro ou uma solução,

Seja para o mundo ou para mim mesmo; o que eu sou e o que eu quero então?

Deus: Você está orgulhoso do que fiz ou de quem não me tornei?

Deus: Por que me sinto errado até quando acho que estou certo?

Por que me sinto certo quando tudo me revela que estou errado?

Por que já não conseguimos nem mais confiar em quem amamos, e nem em nós mesmos?

Deus: Nós não sentimos mais nada nessas nossas almas tão sujas e insanas.

Vem logo ó Verdade libertadora_ e nos revela o quão morto e despedaçados nós somos,

Revela uma gota de esperança dentro desse inferno e dessas quedas que sofremos todos os dias.

Deus: aonde estamos indo com nossas vidas egocêntricas e materialistas?

Deus_ Afastai de nós mesmos quem nós temos sido, e sopra um novo espírito nos túmulos de nossas almas perdidas.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 11/07/2014
Reeditado em 18/02/2015
Código do texto: T4878432
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