ORGULHOSA

Deixas de orgulho menina,

Tua beleza é passageira.

Se Deus te deu esta sina,

Vês que não és a primeira;

Beleza o tempo consome,

Nenhuma mulher o nome

Eternizou por se bela

Sem possuir elegância,

Da formosura a arrogância

Degrada os méritos dela.

Ostentas um corpo lindo,

Na face ternos meneios,

Pequena blusa cingindo

A rigidez dos teus seios,

Esbelto corpo moreno,

Nos lábios negro veneno

Nos olhos brilhos fatais;

Com teu sorriso embriagas

Cavando profundas chagas

Nos corações dos mortais.

É certo que a tua beleza

Ofusca muitos olhares,

Porém a mãe natureza

Iguais a ti fez milhares;

Frívolas, tolas, vaidosas,

Que só por serem formosas

Julgam-se quase divinas;

Simples matérias humanas,

Contaminadas, profanas,

Causa de muitas ruínas.

Tu vives num pesadelo

Que muito te sacrifica,

No mais penoso desvelo,

Simulando vida rica;

No meio de muitas galas,

No burburinho das salas

Ouvindo juras falazes,

Agindo qual meretriz

E só te sentes feliz

Amando a muitos rapazes

Tu hoje zombas de quem

Não tem igual formosura,

Só dás valor a quem tem

Boa aparência e mesura,

Além de fama e riqueza,

Menosprezando a pobreza,

O feio, o velho e o doente;

Foi teu passado obscuro

E com certeza o futuro

Também será deprimente.

Amanhã velha serás,

Sobrevirão os martírios,

Carinhos mendigarás

Na convulsão dos delírios

Prestando a todos e a tudo

Flácido corpo desnudo,

Expondo a rugosa derme

E acenando a mão convulsa,

Todos dirão com repulsa:

Detém-te asqueroso verme!

E quando a morte chegar

Cruel, horrenda, sisuda!

Certamente hás de ficar

Pasmada, quieta, muda!

Tardiamente arrependida,

Porque conduziste a vida

Por caminho degradante;

Após os teus funerais

Poucos dias e ninguém mais

Lembrará o teu semblante!

Sou pobre, mas sou poeta!

Sou venturoso, feliz!

Tenho a modéstia por meta

E sempre me satisfiz;

Tenho sentimento nobre:

Belo, feio, rico, pobre,

Não vos faço distinção;

Muitos leitores ufanos

Daqui a duzentos anos

Meus versos declamarão!