febre alta

Tem dias que a sina joga gás de pimenta,

Força a lágrima e dispersa a esperança;

A rósea promessa desperta cinzenta,

O alento pretérito sucumbe, desalenta,

E a alma erra o devido passo na dança...

Mas, pensamos libertar o sonho trancado,

E vemos que faltam todas as sete chaves,

Queremos correr e resta o passo do gado,

E erra bem mais o errante que apressado,

se omite de analisar o motivo dos entraves...

então o otimismo passa a tremular de frio,

é, pois, tratada sua febre a bem da verdade;

o desânimo, de ora, ontem ele mesmo pariu,

quando no pináculo da euforia presto subiu,

e fantasiou coisas muito além da realidade...

devaneios, quimeras, utopias, anseios vários,

desfraldam as bandeiras em insana milícia;

exigem a alma feliz esses bravos libertários,

que voeje lépida e canora quais os canários,

então o fado precavido logo aciona a polícia...

A restauração da ordem psíquica nos custa,

Descermos à exata proporção que subimos;

Gostemos ou não tal recomposição é justa,

Na verdade, essa sombra que tanto assusta,

Projeta-se à partir dos ídolos que esculpimos...