Tabloide de Mim
Parece-me que o espermatozoide
Que fecundou o óvulo que me fez criatura
Era meio agitado, meio zonzo...
Simplesmente assassinou os congêneres
E ficou só a germinar um embrião...
Havia em si caracteres alucinatórios,
Pois, derivou um DNA rebelde,
Às vezes cismático, meio revolucionário...
De vez em quando altruísta e sapiente,
Mas vez por outra plenamente solitário...
Guardou em mim acervo de raízes várias,
Porque do grotesco ao sublime,
Da razão primitiva ao tom lunático
Há diodos que nutrem transformações
E a lucidez baila sobre fontes mentecaptas...
É uma enxurrada de pensamentos febris
E um holocausto em que paixão é brasa,
Experiências de extremos paradoxais
Ora profundamente maltrapilhos,
Ora circunstancialmente envoltos em enxovais
Em que a personalidade é mistério...
Vejo o mundo num tabuleiro de perfídia
Ou numa redoma que protege o que é fino...
Vejo-me ladeado por extremos cabíveis e incabíveis
E o que foi em mim implantado já é peça de museu
Visto que ora sorrio, ora choro... este, sim, sou eu!