Tabloide de Mim

Parece-me que o espermatozoide

Que fecundou o óvulo que me fez criatura

Era meio agitado, meio zonzo...

Simplesmente assassinou os congêneres

E ficou só a germinar um embrião...

Havia em si caracteres alucinatórios,

Pois, derivou um DNA rebelde,

Às vezes cismático, meio revolucionário...

De vez em quando altruísta e sapiente,

Mas vez por outra plenamente solitário...

Guardou em mim acervo de raízes várias,

Porque do grotesco ao sublime,

Da razão primitiva ao tom lunático

Há diodos que nutrem transformações

E a lucidez baila sobre fontes mentecaptas...

É uma enxurrada de pensamentos febris

E um holocausto em que paixão é brasa,

Experiências de extremos paradoxais

Ora profundamente maltrapilhos,

Ora circunstancialmente envoltos em enxovais

Em que a personalidade é mistério...

Vejo o mundo num tabuleiro de perfídia

Ou numa redoma que protege o que é fino...

Vejo-me ladeado por extremos cabíveis e incabíveis

E o que foi em mim implantado já é peça de museu

Visto que ora sorrio, ora choro... este, sim, sou eu!

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 03/07/2014
Código do texto: T4868271
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