As granadas
Os varais escutam o clarim do labor,
Pois se lhes acena o consórcio do sol;
Nós outros sorvemos a luz, eles o calor,
O dilúvio passou semeando certa dor,
Noé solta os bichos de seu imenso rol...
Às vezes brotam algumas reflexões,
dado que partícipes, não observadores;
almas transparecem em tais ocasiões,
circunstâncias demandam as reações,
e o caráter delimita-as em seus valores...
certas mazelas estão tão entranhadas,
nem nos assustam quando vêm a lume;
as falsas doses que nos são ministradas,
meras conveniências já acostumadas,
dos que confundem valor com volume...
conveniência é logro palmilhando a terra,
fingindo sapiência nas máculas que traz;
vaia a honesta estupidez de armas de guerra,
e na mesma sequência o novo passo erra,
aplaudindo às letais e cínicas armas de paz...
princípios sufocam pela falta de ar puro,
onde o “mise èn scene” malogra a faceta;
vertendo duro em macio e esse em duro,
acho o semblante do mal é sempre escuro,
tanto faz se usa um canhão ou uma caneta...
assim contemplo desde minha impotência,
as balas traçantes que o corrupto mor atira;
a clássico pelo em ovo, nele buscar decência,
o que a guerrilha não pôde com a violência,
cede pouco a pouco às granadas da mentira...