Pra que, pra onde?
Fez-se então o som do silêncio, tão forte que chega a ensurdecer.
A noite caiu inquietante, pois é precedida pelo amanhecer, que
como a tesoura, molda em cortes e recortes, tudo o que vai acontecer.
Um dia após o outro, e outro, e outro também,
Pra que, pra quem?
É como barco desgovernado, levado pelo vento pra esse lado, pro
outro lado, e minha noite, no lado de dentro. Meu novo dia por amanhecer.
Correr, pra que, se a diferença entre ser e estar é só uma questão
de para que lado o vento sopra, ressopra, assopra e conduz? Início
da noite, e do dia, finda a luz.
Segue o barco, busca o porto seguro onde me seguro ou me segurarei, não sei, sei lá. Mas lá onde?
No amanhã talvez!
Pode ser que seja esse momento, o instante da vez, vez por outra, outra vez, e ainda ficou no ar a pergunta.
Para que tanta acidez?
Do limão faz-se a limonada, mas não tenho sede, não tenho fome, não tenho nem mesmo vontade.
Sigo como meu barco, onde de dentro pra fora, morro um pouco mais sem piedade.
Dor mórbida, mordida, mastigada e degustada pelos longos anos em que minha vida foi levada, à deriva, às margens da insanidade....loucura mesclada com imoralidade.
Feridas abertas, dores incertas, algumas delas, outras tão certas que chega a dar desespero.
Segue o barco, some o porto, fico insegura.
Seguro apenas nas mãos do Pai, e que ele tenha misericórdia, pois somente a ele confidencio o que me vai no peito....
É não tem mesmo jeito.
Melhor lavar o corpo e joga-lo no leito.
Boa noite dia que se vai...
Bom dia, dia que se aproxima.
Por Fátima Ayache