Alforria
A vida cruza sobre a ponte no passo do gado,
o sonho, precursor, já a espera do outro lado;
converte em asas o fato de ser um apressado,
quiçá por não ter controle sobre o que sente;
ele persegue à sina, com a marcha diferente,
sobrepõe ao frio os seus anseios mui quentes,
quase toca na distante pele, como que sente,
quem sabe, fantasia como se, tivesse tocado;
esse mui quente devaneio depressa lhe agita,
malgrado, distante o seu alvo, logo ali palpita;
devir ainda não veio, mas, presto corta a fita,
e com certeza que vai inaugurar tempo novo;
dizem que isso é contar o pinto ainda no ovo,
as brejeiras manias circulando, entre o povo;
mas, esperança traz à força, o devido renovo,
e essa porção abstrata à dura depressão evita;
adequar-se à sorte avessa muitas vezes é duro,
assustador, como criança que teme ao escuro,
a frustração é dívida, a lembrança, pesado juro;
desde que o Fado assaltou, com o seu trabuco;
ora finjo estar bem outra, fico um tanto maluco,
solto sonoro palavrão como que, me deseduco,
se a boa sorte tá presa na engrenagem do cuco,
coração ousa e a alforria, antecipando o futuro...