A beleza feia

A arte às vezes forja uma contradita,

Como dizer que o copo tá meio cheio;

Pois consegue esculpir a palavra bonita,

Até dos rochedos do sentimento feio...

Cabe a nós não dormirmos de touca,

Seja forma a última, essência, começo;

Pois a aparência é só uma bela, louca

Qual oca estátua a procura de apreço...

Se engaje em valores, seja algo maciço,

E disso, que o talento entalhe o belo;

Não simples traiçoeiro como um ouriço;

Que enfeita espinhos de vistoso amarelo...

Que nossa alma tenha o toque sutil, tal,

Qual aqueles que sabem leitura em Braile;

O guizo da cobra é sonoro, quase musical,

Mas disfarça o veneno que é fim do baile...

claro que ao apreço do belo não me nego,

junte-se ao probo qual beija-flor e a palma;

o pai dos poetas, Homero, dizem, era cego,

assim, só podia ver da beleza, a sua alma...

Sei , é um tanto atrevido esse meu crivo,

Sabem de suas verves somente os autores;

sonho que retórica não pinte o mau motivo,

que a poética não cante aos maus amores...