O pipoqueiro

Que querem dizer os olhos inchados,

afinal, estão dedurando o seu dono;

contando que, na noite foi assaltado,

por um motivo mais forte que o sono?

Que dizem os amplos sinais de fumaça,

voando aqui, lá; de minha casa subiu;

se, não acusam resistência duma raça,

que está em árdua guerra contra o frio?

Que dizem essas asas negras do poeta,

voando mares, campos, Andes, sozinhas;

se, não são as lâminas da alma inquieta,

recusando o conforto imoto das bainhas?

Fantasia que a tela, são ouvidos da amada,

outrora foram papel, caneta, todos sabem;

onde pode falar de maneira sutil, apurada,

frases mais ternas que à ausente, cabem...

Dizem que o cigarro ao fumante acalma,

saciando anseios que ele mesmo provoca;

assim os devaneios fazem através da alma,

corpo uiva por pele, eles estouram pipoca...

Não digo, com isso, que poeta é pipoqueiro,

que seja, que mal teria se, deveras, fosse?

contudo, quanto mais a sina usa seu saleiro,

mais ele revida servindo seus feitos doces...