O vendedor de pulseiras

Um sábio camelô, no mais

Alto nadir da transcendência

Aborda-me com ares de paz

Em esquizofrênica essência

A clamar por vestes, solta o verbo

E, de supetão, recai-me a razão

De tão real proza a tão efêmera

Passagem... e hão de dizer-me não

Mas, de forma sucinta e sincera

Soava: “A felicidade simples, pura...

Palpável e real, e a gente, doutor...

A vê embassada e escura

Nesse mundão de desamor!”

No largo da praça, prosamos

Enchi-o o estômago em recompensa

“Um dia me formo igual ao senhor...”

Assim por anos filosofamos

Até o dia em que saiu em andança

Pelo mundo, o jovem camelô...

Nas manchetes, me sobressalto

Não havia peripécia, esperança,

Nos que assistiam àquele fato

De vendedor de pulseiras

A filósofo, médico e cantor...

Em dias, à Praça das Castanheiras

Reencontro o velho amigo

Hoje são coleções de ladeiras,

Bares, livros e conversas comigo...

A canção perdida é uma esfinge

Que jamais nos atinge

Quando, ainda, veementemente

Nos dispomos a seguir em frente!

(NJSM, 04/06/2014)

Dr Niedson Medeiros
Enviado por Dr Niedson Medeiros em 04/06/2014
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