INÍCIOS DE NOVO MILÊNIO - A Edson Paulucci
Na manhã de 02 de junho de 2014
Poema escrito em 2002.
Tabuleiro medieval.
As tochas iluminam a Morte e o cavaleiro
no jogo que prossegue...
Algumas torres se preparam para a morte
outras, não. Enquanto isso, desde o primeiro lance,
os peões tremem.
Sem os peões, o jogo não existe.
O morto no campo de batalha
olha o inimigo ao lado e pensa: O outro morto:
Esse está mais morto do que eu. Você se engana.
A seguir, se quedam calados sobre a terra:
É impossível dialogar com o inimigo.
Atravessamos o milênio, e daí?
Não vejo qualquer diferença no rio.
Eu vejo:
Acaba de passar um cardume morto.
Se você pretende atravessar comigo neste barco
até o outro lado da linguagem
é mais seguro ir nadando
Você consegue ver esse outro lado da linguagem?
Que nada! Parece que o rio vai longe!
Talvez - ainda é tempo -
o melhor seja
deletarmos rio
barco fazendo água
passageiros...
Ou sábio seja
permanecermos
no ínfimo do deus
tal os múltiplos
os tantos
ainda aqui
reinventando liras
reinventando perguntas
reinventando o pânico dos antigos.
Pelas ruas, o pânico dos velhos caminha lento...
Minha eternidade pelo reinado de um dia.
Só libélulas são felizes.
As diversas tribos, cada qual balançando
em seu ritmo próprio
vão puxando alegremente a passeata
por aumento de salários.
Meu corpo silicônico absoluto perfeito
não precisa de futuro. Identidade?
Excesso de bagagem, problemas na Alfândega.
Me vendo na TV, no cruzamento da Ipiranga
com a São João.
Na telinha também os meus guris
os demais companheiros
os nossos piolhos
os carros estacionados.
Que belo enquadramento! Estamos ótimos!
Abraço grande, amigo.
REPUBLICAÇÃO.