Ser feliz, em tempo
A vida também se faz de umas quimeras,
Enchendo lacunas que realidade sonega;
Sonho e anseio colados qual muro e hera,
Esperança promete e o fado não entrega...
Poesia solícita se imiscui nessa brecha,
privado o bem, que esteja franco o grito;
Jura arrombar a porta que a vida fecha,
alimenta a alma e deixa o corpo faminto...
Cada verso alargando a fenda como cunha,
Entra apenas porque o instinto martela;
Inspiração e carência qual carne e unha,
Cosem pra vestir o feio, a veste mais bela...
A pressa, não raro, faz darmos mancada,
Soltando do galho um fruto ainda imaturo;
Com o açodo de uma cezária precipitada,
Que feita muda o signo, viola o nascituro...
Quase sempre a sorte foge por um triz,
Ao menos, pensamos, a bem da verdade;
Às vezes penso, a ideia fixa de ser feliz,
É que reforça os tons da infelicidade...
Então, se dane a postura de frágil cana,
Que entorta conforme a direção do vento;
Felicidade não é puta que se vende à grana,
É uma lady, uma dama, virá no seu tempo...