Sujar As Mãos

Sim, não vou sujar minhas mãos com o lodo do mundo.

Não vou afundar na areia movediça que ganhou o cimento das nossas

calçadas.

Não vou arredar os joelhos nessa lama emaranhada.

Não, irei caminhar com as mãos brancas e lisas como o veludo.

Irei fechá-las para não aceitar imorais propinas.

Irei abri-las tanto para dar bom dia, como para dar o que alguém precisa.

Sim, não vou me sentar à mesa em qualquer encontro.

Pois quero poder descansar durante meu sono.

Que saia de minhas costas todo e qualquer ônus.

Não, minhas mãos estarão limpas como as do príncipe de um conto.

Se as mãos de outro destruir, eu vou e recomponho.

Que seja com as minhas mãos que eu agarre um sonho.

Sim, minhas mãos acariciarão como antes.

Alcançarão à razão de quem esteja extremamente distante.

Pois o acolhimento é uma aptidão pura e constante.

Não, minhas mãos não afagarão mais os infames.

Pois a abnegação é uma contradição intrigante.

O vermelho é a cor das pétalas, e minhas mãos não estão sujas de sangue.

Sim, minhas mãos irão pegar o que voa deixando a beleza pela imensidão.

Ou qualquer fruto que nascer nas bordas do coração.

Mas o certo é que devo prepará-las para darem atenção.

Não, com mãos sujas, de mãos dadas minhas mãos não andarão.

Porque minhas mãos não devem atirar-se à devassidão.

E nem botarem-se a correr atrás de uma ilusão.

Não, eu não devo sujar as minhas mãos.