A NÓS QUE PRECISAMOS RESSUSCITAR *
NO INÍCIO DA MADRUGADA DE 28 DE MAIO DE 2014
TEXTO ESCRITO EM 05 DE AGOSTO DE 2008
* Por ocasião da escrita este poema intitulava-se "Parto Natural"
Devorou as ideias
de mundos alheios.
Perdeu o rosto
nos espelhos: simulacro.
Multiplicou a sede
em muitas impróprias águas.
Proteu, plagiou-se
ao longo das Eras.
Proferiu, ad infinitum,
as palavras
que lhe puseram na boca.
Desceu aos infernos todos
para resgatar-se
os pecados, os crimes sem nome.
Ascendeu a paraísos vários
sem qualquer mérito próprio.
Ensinou as severas verdades
sem interno conhecimento.
Curvou-se servil, sobremodo,
a menores.
Olhou, sobre tudo soberba,
aos maiores.
Articulou, vezes sem conta,
em horas erradas, o certo.
Proferiu, sem pausa, o errado,
nos tempos para o exato.
Na infância, anciã.
Aos cinquenta, adolescente.
Menino, a mãos-abertas,
ofertou aos velhos, conselhos.
Agora, as crianças
a pegam no colo.
Enfim, só lhes cabe
a extrema felicidade:
Hoje, véspera de amanhã
amanhã, águas rompidas,
nascerão, por livre escolha,
de parto natural.
A todos nós, os que precisamos ressuscitar, cada qual de si em si mesmo.
REPUBLICAÇÃO.