O lamentável costume de ser.

O lamentável costume de ser.

Esse lamentável.

Costume de ser.

De viver.

Habituei-me.

Foi à única forma.

Vivendo acostumei-me.

Tive que sintonizar-me.

Não se tinha outra perspectiva.

Faltou-me perspicácia.

Se tivesse outro mundo.

Nasceria na Dinamarca.

Cansei desse lado de cá.

Tornei-me.

Naturalmente.

O jeito de ser.

A forma de viver.

E sem saber.

De alguma forma.

Fui indo.

Até o fim.

Eu tive que ir.

Não me restou outra.

Opção.

Sem consciência fluindo.

Tornei-me.

Vários outros.

E sem saber.

Solitariamente.

Todos eles.

Foram mortos.

Mas deles renasceram outros.

Consecutivamente outros.

E aquele que sobrou.

Perdeu-se por trilhos.

Sobre pedras.

Soltas as montanhas.

Às vezes areias.

Feriam os pés.

Perdido na selva.

Na busca do cosmo.

Fui fluindo.

Desastrosamente.

Esgotando-me.

Perdendo.

Apenas a fluência.

Terminando.

O recomeço.

Acabou-se.

Era terrível.

O vício de ser.

De deixar de ser.

De serem outros.

E de ser a si mesmo.

Fui me conduzindo.

Até a morte chegar.

O escuro escondeu.

O brilho das estrelas.

Senti medo.

Pavor.

Às vezes chorava.

O sorriso misturou.

Com lágrimas.

Sem entender a dor.

A finalidade da alegria.

Sem chegar.

Em algum lugar.

A vida finalizou-se.

Vive-se bastante.

Como se fosse necessário.

Sente-se a ondulação.

Com a natureza.

Vai-se desaparecendo.

E todos os outros.

Por último o próprio ser.

Acaba-se.

Termina-se.

O costume de ser.

O jeito de ganhar.

De também perder.

Apaga-se.

A anti-dialetica.

Fulminou-se.

A consciência noturna.

É a finalização.

Dos mundos.

Restaram apenas.

Para os que ficaram.

Sombras.

A ficção do ser.

Que teve que ir.

É o lamentável costume.

O hábito de perder.

A forma de ficar.

O jeito de enganar.

Vai partindo sem saber.

Sem sentir e sem ver.

Sendo, deixando de ser.

Sem ser.

Vendo.

Sem ver.

Entendendo.

Sem entender.

Apenas.

O não saber.

Saudade.

De tudo isso.

Que fomos sem.

Sermos.

É o lamentável.

Costume.

De deixarmos.

De sermos.

É o hábito de partir.

O costume de não sermos.

A forma de passar.

Entre todas as coisas.

Não sobrou sequer uma delas.

A não ser o tempo.

Que passou.

Que deixou de existir.

O costume.

Já não é mais o que foi.

O ser deixou de fluir.

Perdeu-se o hábito.

Não se pode mais.

Viver.

Foi se o tempo.

Sobrou-se apenas.

Nuvens negras.

E o escuro.

O congelamento final.

Uma enorme bola.

Movimentando.

Solitariamente no espaço.

Dançando sem canção.

Sem rumo, presa.

Pela gravidade.

Sem luz.

Concentrando novas energias.

Esperando o novo ser.

Acontecer.

Como se fosse possível.

A repetição do mundo.

Edjar Dias de Vasconcelos.

Edjar Dias de Vasconcelos
Enviado por Edjar Dias de Vasconcelos em 27/05/2014
Reeditado em 27/05/2014
Código do texto: T4822589
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