Bêbado sobre o muro

Insano buscar as razões pelas quais demoro,

pra dar vazão ao assédio no bem que espero;

e essas incongruências com quais me deparo,

são máscaras que temem um extrato sincero;

Amor próprio é vital, mas, ferido puxa o tapete,

quisera fosse tão frágil como um pé de abacate;

que a geada do sul quando vem e baixa o cacete,

cresta toda a superfície da relva, e àquele abate;

O medo do não, é um avesso prisma no mirante,

que mesmo às chances faz contemplar diferente;

esperança insiste em evitar o barco de Caronte,

mas, não o bastante para desfazer o gelo carente;

Aí, esse vou não indo ,nos deixa privados, e fora,

poesia até que entra, contudo, essa é arte, mera;

desejo atrevido abriu a mítica caixa de Pandora,

quando assustado tentou colocar a tampa, já era;

E os males do mundo espalhados no amplo prado

parece que se voltam contra esse sonho nutrido;

embaçam a vista para ver ao bem, de mau grado,

e o mal sai rindo à farta, do anseio não cumprido;

As razões presentes advêm desse duro pretérito,

felino escaldado vê as chagas, revive seu pânico;

as represas emocionais desconsideram o mérito,

viçam agruras, pelo fomento de adubo orgânico;

O presente é muro entre dois terrenos distintos,

devir, ainda incógnito, e o passado, desencanto;

a saudade empurra, esperança puxa os instintos,

o siso e o temor se equilibram, ébrios, entretanto...