Cristal partido
O poema se perdeu pensando na porta,
Que o álcool fechou, e pedia aberta;
Qual soldado persa nas mão de Esparta,
O ébrio pedia clemência, abrigo, coberta,
A Maria da penha cujo nome é outro,
Soluçava inconforme do lado de dentro,
Pois o valentão que secara um litro,
Pedia zero a zero e bola no centro...
Eu vi “en passant” sem menor intento,
Não pude deixar de analisar, entretanto;
Que por uns parcos goles de vinho tinto,
O tolo paga até um barril de pranto...
Menos mal que a galera lhe poupa a vaia,
Ainda que digno, pois, de cara cheia;
Volto resignado a beber de minha cuia,
Lendo como se minha, a placa alheia...
Que estúpido ter um bem que não preza,
Que só a supervisão da dor, bem avaliza;
O frio arrefece a uma costela, uma blusa,
Mas, o gelo do desprezo, nada ameniza...
Não falta quem culpe a sina pela peça,
Mas quem faz isso tem a vista baça;
A vida nos ensina esfregando na fuça,
Que partido o cristal, não se refaz a taça...