O que pode ser poesia?

hoje uma janela abriu-se

e fugi por aí

sob sol tímido agasalhado entre nuvens,

sentindo nos pés

úmidas gramíneas lembrando do orvalho,

e ali e ali e mais ali,

flores teimosas abrindo pétalas miúdas

tudo assim,

e somente assim,

quero perambular num quadro pintado

a dedo, tudo tão perfeito...

e penso que pode ser poesia...

por ser tão belo

o aspecto do dia

todavia, meus dedos se prendem cansados

ficam ajoelhados dentro de uma abadia

amassando muitos pães

que não matam fome de ideias,

não preenchem vazios

e nem coram faces esfomeadas

daqueles que se deixam morrer pelas goelas

entaladas de crenças,

confiando que a qualquer momento

um campo farto se abrirá

para morrerem felizes

desce o suor pelas paredes

dos corredores escuros

onde gemem os morticínios

e o odor do sangue que corre nas ruas,

roubando esperanças

e confianças,

roubando infâncias,

deixando sorrisos sobreviventes

dentro de fortalezas armadas

os dedos amassam o pão ouvindo os gritos

que ignoro...

prefiro ficar só,

neste templo de observação

quando muitos me esperam,

meu céu fica mais azul

cobrindo rios que correm cada vez mais cheios...

- e aquelas folhas que voam rentes ao chão?

parece poesia...

mas a verve não quer saber

comanda os dedos que amassam pão

para dar pro diabo comer

MarySSantos
Enviado por MarySSantos em 22/05/2014
Código do texto: T4815722
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