O que pode ser poesia?
hoje uma janela abriu-se
e fugi por aí
sob sol tímido agasalhado entre nuvens,
sentindo nos pés
úmidas gramíneas lembrando do orvalho,
e ali e ali e mais ali,
flores teimosas abrindo pétalas miúdas
tudo assim,
e somente assim,
quero perambular num quadro pintado
a dedo, tudo tão perfeito...
e penso que pode ser poesia...
por ser tão belo
o aspecto do dia
todavia, meus dedos se prendem cansados
ficam ajoelhados dentro de uma abadia
amassando muitos pães
que não matam fome de ideias,
não preenchem vazios
e nem coram faces esfomeadas
daqueles que se deixam morrer pelas goelas
entaladas de crenças,
confiando que a qualquer momento
um campo farto se abrirá
para morrerem felizes
desce o suor pelas paredes
dos corredores escuros
onde gemem os morticínios
e o odor do sangue que corre nas ruas,
roubando esperanças
e confianças,
roubando infâncias,
deixando sorrisos sobreviventes
dentro de fortalezas armadas
os dedos amassam o pão ouvindo os gritos
que ignoro...
prefiro ficar só,
neste templo de observação
quando muitos me esperam,
meu céu fica mais azul
cobrindo rios que correm cada vez mais cheios...
- e aquelas folhas que voam rentes ao chão?
parece poesia...
mas a verve não quer saber
comanda os dedos que amassam pão
para dar pro diabo comer