Últimas palavras

Enquanto a vizinhança

Pulsa em algazarras

Dentro de mim

Um império de silêncio existe

Imagino as pessoas

Em suas salas

Como escolas de samba

Sem abre-alas

Um vazio que não

Pode ser preenchido.

A noite desce sobre os meus cabelos

E a lua tímida

Se esconde atrás das nuvens

Tento salvar a inspiração

Que um dia tive

Primeiro passo:

Retirar dela a ferrugem.

Falar de amor?

Não quero!

Já estou farto!

Falar de dor?

Talvez...

É melhor não...

O meu cansaço

Já chegou ao nível mil

Estou carregando a carga

E o caminhão...

Pra aliviar o tédio

Que eu sentia

Cortei meus pés

E uma de minhas mãos...

Enfim...

Enfim...

Tantas ideias

Uma palavra

Deus me livre

Deus me cura

Deus me lavra

Sou plantação

De algodão puro

Imerso em praga...

Inceticidas já não basta

Bebo aos litros

Envenenar o meu sistema

É muito fácil

Meu coração não bate

É osso puro

Minhas artérias

Bombeando cálcio...

Meu parecer?

Parece que pareço

Pereço mesmo...

Já passei da validade...

Morri

Mas despistei

O pobre do coveiro

Que ainda hoje me procura

Na cidade...

Deixe minha tumba

Pra quem mais precisa

Muito imprecisa

Essa vida é um cais...

Faço questão apenas

Do epitáfio:

Mais do que isso não apodreço mais!

Weverthon Siqueira
Enviado por Weverthon Siqueira em 04/05/2014
Código do texto: T4794416
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