Nada
O que há de tão vazio em teu olhar
O que chega a me tomar tão por inteiro
Uma dor que força minha garganta a sangrar
Sem dor, sem rosto, sem corpo, sem cheiro
O soar de um sino inaudível
O indescritível deixa-me perdido
A reação poderia ser incabível?
Tal imensidão, a um ser sucumbido
Oh, vazio!, (imploro.) Não me consuma
A voz do amigo que desperta em mim
Manda solidão que o acompanha que suma
E deixe a paz que conquisto enfim
Haveria uma fonte indestrutível?
O relembrar, agora, por hora, insípido.
Possível, ou impossível?
Outrora pérfido, noutra hora límpido.
Mas se me consumo só por seu deleite
Incompreensível ou não (riso!), não importa
Ele veste-se com uma roupa do diabo por enfeite
Espera-me na relva do inferno atrás da porta
Maneio o desconhecido
Ser maldito, emerjo o gozo de seus prantos.
Maneio o conhecido
Ser bendito, imerjo o sacrifício de seus santos.
Mas o nada? oh, o nada é imparcial
nem santo nem diabo vive de seu ser
Observo-o: inerte sem igual
consome e corrompe o que vê
Seria Nada o Todo?
ou Nada é Todo, e Todo é Nada