Meu último poema
O dia joga pedras nas janelas,
Bate na porta... na aorta...
Não importa!
Cheiro de mato lá fora,
Café aqui dentro...
E no quintal o sol doira
O que era noite e o que era frio
E o dia me invade como um rio.
Torno-me perspicaz, sagaz
Feito passarinho desconfiado,
Felino de sentidos afiados.
A vida lá fora exige, é dura.
Ponho minha armadura cintilante;
Minha camiseta branca, tênis e jeans.
Auguro por duras batalhas...;
Afio minhas falhas, minhas navalhas.
E ganho as ruas, tenho a liberdade
Que Deus me deu, livre arbítrio...
Deixei de ser Romeu, perdi minha Julieta
Na página 35 do livro que me conta.
Perdi meu emprego, estou com ordem de despejo.
Fui assaltado por um senhor que dizia ser honesto
E de resto ainda me resta alguns trocados de sonhos.
Meu cavalo, meu violão e uma aguardente.
Vou galopar à beira mar, esperar a chuva molhar
O meu rosto e misturar com meu choro
E com o suor do coro no me cavalo marrom.
Vou tentar alcançar um pouco mais de requinte,
Nesta lida sou ainda um pedinte
Que no dia seguinte já não tem mais nada
Que havia de súbito no embornal.
Peço amor, peço paz... peço a peça que falta
Na minha máquina do tempo.
Sou bicho acuado, mas sou perspicaz, sagas.
Sou tudo que ainda há de ser até ontem.