Palco
“Casa enche, luz apaga, cortina abre, som retumba, peito bate.
Caminho clama e declama por pés descalços sob o cenário escarlate.
Dança mansa, a arte que lança em energia o doce laço de um abraço figural.
Move singelo o passo num compasso que inspira a mente em pura simbiose natural.
Brilha e aflora no palco a beleza sutil de cada essência diferente.
Conjunto finito em singular adição agora é plural eminente.
Instante, presente, momento no tempo que não anseia em ir embora.
Mentira vazia, dor reprimida, a culpa doentia ficam do lado de fora.
Ali é festa, giranda, ciranda iluminada pela estrela guia,
Suspiro, suor e fadiga perdem sem rodeios para tamanha euforia.
Majestosa brincadeira flameja e arde em ascendente fulgor,
Saia rodada, sorriso latente e palmas simétricas invadem a todos com fervor.
Música finda, corpo pára, aplauso paira e domina emoção.
Cortina fecha, flash cega, braços envolvem. Deu tudo certo, então!
Figura e figurino saem de cena e viram espaço amarrotado na bolsa das ilusões.
Realidade enfadonha chama, puxa, arrasta. Retorna a vida maquiada de arrefecidos borrões.”