O último ser humano

O suspiro por

uma lembrança que os lábios tocam

sem beijar

por uma lembrança de gosto doce.

Respiro fundo pois faltou-me ar

ao sentir o gosto ausente

daquela cena...

Aquelas cenas

cada palavra dita é mais uma célula rompida

da pele da minha alma

neste corte que nunca sara

esta dor que nunca termina,

uma sina.

Uma maldição.

Cada palavra bonita já ouvida

cada frase intensa e sincera

no meio de grosserias

é como um eco contínuo

de múltiplas frequências,

me chama a atenção

me puxa para cima e para baixo,

faz o que quer comigo,

me assusta, me alerta

mas não está aqui.

Aqui.

A pessoa, a autora, não está aqui.

A ausência amanhece ao meu lado

presente e firme.

A necessidade surge

enfraquecendo qualquer pré determinação,

qualquer força de vontade.

Qualquer vontade

é nula

próxima desta ausência de força.

Sugaram-me as energias.

Reorganizo os pensamentos

a fim de fazer o ar circular e renovar a minha vida.

Buscando qualquer fuga

postergando o precipício

o pulo, a queda

no abismo da minha dor

no abismo sem fim

das minhas ilusões e sonhos mais sinceros.

Sinceridade

é pular com todo o amor

- esse mesmo amor que me esforço em renegar,

que prometo e faço campanha para abandoná-lo

e no futuro sempre quebrar minha palavra -

na queda livre

do abandono

e mergulho na tua loucura

- como se a minha fosse rasa -

na ingênua coragem de despertar

o último ser humano...

e finalmente tornar-me humana para ti

(amada por isto).

Alecrim Cristal
Enviado por Alecrim Cristal em 29/04/2014
Reeditado em 29/04/2014
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