O último ser humano
O suspiro por
uma lembrança que os lábios tocam
sem beijar
por uma lembrança de gosto doce.
Respiro fundo pois faltou-me ar
ao sentir o gosto ausente
daquela cena...
Aquelas cenas
cada palavra dita é mais uma célula rompida
da pele da minha alma
neste corte que nunca sara
esta dor que nunca termina,
uma sina.
Uma maldição.
Cada palavra bonita já ouvida
cada frase intensa e sincera
no meio de grosserias
é como um eco contínuo
de múltiplas frequências,
me chama a atenção
me puxa para cima e para baixo,
faz o que quer comigo,
me assusta, me alerta
mas não está aqui.
Aqui.
A pessoa, a autora, não está aqui.
A ausência amanhece ao meu lado
presente e firme.
A necessidade surge
enfraquecendo qualquer pré determinação,
qualquer força de vontade.
Qualquer vontade
é nula
próxima desta ausência de força.
Sugaram-me as energias.
Reorganizo os pensamentos
a fim de fazer o ar circular e renovar a minha vida.
Buscando qualquer fuga
postergando o precipício
o pulo, a queda
no abismo da minha dor
no abismo sem fim
das minhas ilusões e sonhos mais sinceros.
Sinceridade
é pular com todo o amor
- esse mesmo amor que me esforço em renegar,
que prometo e faço campanha para abandoná-lo
e no futuro sempre quebrar minha palavra -
na queda livre
do abandono
e mergulho na tua loucura
- como se a minha fosse rasa -
na ingênua coragem de despertar
o último ser humano...
e finalmente tornar-me humana para ti
(amada por isto).