A janela dela

A janela dela

A janela dela

fatídica janela

dava pra manhã dourada

na parede nula

de outro prédio.

Dava pro asfalto

pra memória de corredores

da infância, casa nostálgica;

mil corredores imaginários

infinitos, azuis, turvos

A janela dela

dava pro corpo macio

da vista marítima;

pro vento satírico

que carrega vozes

da cidade metálica

que esquece de cansar.

dava pra indiferença

fria, talvez breve

em um estalar de lábio

A janela dela

dava para a plantação de concreto

pro carteiro banhado em suor

pro mendigo, distinto, ao sorrir

pra mercadorias transportadas

inconstantes, pra absorção do movimento

dava pra dinâmica do aborrecimento

cotidiano, de todos, dela mesma

dava pro encontro rubro dos namorados

tão antigo quanto a janela dela

A janela dela

raquítica janela

pintura errada de

uma vida a esmo.

Um convite que evapora

se não sumisse, recusaria.

A janela feita de suposições;

a janela da cicatriz;

se não fosse dela

de mais ninguém seria.

Seria ela a janela ?

ninguém saberia.

Heitor de Lima
Enviado por Heitor de Lima em 18/04/2014
Reeditado em 18/04/2014
Código do texto: T4773866
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