Narrador observador

Ergo os olhos.

O olhar que viu.

Que sentiu a prosa no ar.

Observando sem cautela, o narrar é simples.

Sinto a história, a retórica, a escória suja tonteando a pureza.

Vozes, gestos e dilemas.

Ergo os olhos, nasço e morro. Pronto par contar, porém sem envolver-me.

O lapso do desejo. O pileque ardente, a dose interminável.

Faz calor e frio; choro e rio; mordo e assopro.

Ergo os olhos... Vejo de longe ela vindo de branco. Pele sutil, andar perigoso.

Mastigo as palavras e cuspo narração.

Aquela que se observa. Sou a terceira pessoa.

Cúmplice e vítima. Infeliz por ter que estar longe... Bem longe de estar perto.

Com servidão me exponho.

Pouca lucidez, mero parecer.

Confuso não é contar, mas sim porque estar longe.

Guardo o cheiro, as pegadas e as marcas,

porque conto hoje depois de observar e contarei amanhã,

depois que me lembrar.

JBorsua
Enviado por JBorsua em 18/04/2014
Reeditado em 27/04/2014
Código do texto: T4773656
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