NA SOMBRA DA MONTANHA

Na sombra da montanha vicejam flores selvagens

Pétalas amarelas e vivas na sombra vespertina

Por ali também gorjeiam os pássaros

Quem canta La tão distante?

Quem canta neste lugar onde ninguém vai ouvir?

Pois eu digo... Cantam os pássaros

No jardim que não é jardim a vida cresce

A relva nascida pra cobrir... a tudo cobre

O besouro vagueia

E faz todas as outras coisas de besouro que tem que fazer

Na sombra da montanha o céu é o mesmo

E o sol é uma vizita vespertina

Posso ver roedores correndo entre as plantas

Uma colônia nos arbustos mais fechados e rasteiros

Que mundo é este onde não ouço as buzinas?

Nem vozes...

Nem prantos...

Na sombra desta montanha o outono e quase eterno

Há sempre certo frio a pairar no vento

A sempre certo rumor a envolver a vida

Na sombra desta montanha há vida e morte

E tudo é perfeitamente natural

Extasiado sentei-me feliz a fitar o micro mundo da sombra

Vi coisas que se moviam

Ouvi zumbidos... trinados, chiados

E depois silencio

Alguma coisa não ia mais bem à sombra da montanha

Algum desequilíbrio

Entediado parti

Demorei a entender que o desequilíbrio fui eu.