Descontínuo

O bar se esvazia

Minha mente se afunda

No calor do destilado e do passado

Vem o presente, então, inunda

Dolorosa certificação

Vemos, saboreamos, excretamos

O que sentimos da breve extinção

De células, dos átomos, do outdoor

Do tempo e sua amante - ilusão

Devaneio alcoólatra

Abre-se no beco e na esquina majestosa

Onde reside a dor incompreendida

Mas também talentosa

Dor que tece um vestido e há de se fechar

Nele, sua cintura e alma, sufocar

Para o que um dia finalmente calar

Mesmo assim, o doce câncer da vida, não deixo de tragar

Sartre, brinca com o Corvo, o negro de asas, que sabe voar

E esse não sabe brincar, só diz: “Nunca mais!”

Sabe o pássaro demônio

Que para “nunca”, não existe antônimo

Louco, é o inimigo do crédulo!

Diante de tudo, se vê nu,

marginalizado, de toda sua voz, aprisionado, ignorado

No fundo é o comum e seus arquétipos que jaz amedrontado

Nos espetáculos desta sociedade

Eu sou justo aquele por trás do palco

Brindo todo dia com a calamidade e, morro, morro!

Rindo do seu frívolo genocídio, mascaro humanidade

Banho na chuva ácida e, vivo, vivo!