Ecos da Noite

Enquanto as areias do tempo lentas passam,

E o vento leva para longe o passado

A mente ainda se prende às lembranças

- Noites sem fim onde tudo acontece,

Sem fim, é onde ninguém adormece.

Paixões fugazes que acabam noutro dia,

Na boca o gosto amargo da madrugada,

O corpo dolorido, cabeça tão pesada,

E o sol chegando espanta a noite fria...

Enquanto o silêncio cala no peito

E a chuva cai tão devagar sobre o teto

A imaginação segue labirintos sombrios

- Entes tantos queridos, que já partiram,

Segredos que nunca se assumiram.

Portas que rangem sem parar no escuro,

O gosto de tantos amargos licores,

Paixões que morrem e secam como flores...

Quem sabe o que se passa atrás desses muros?

Enquanto a aurora reluz pelos vales

E os rios de asfalto correm pela cidade,

Os faróis da mente prendem os homens

E a consciência por vezes no coração pesa...

Há dores que ninguém consegue ver,

Há embriaguez de desejo a nossa mesa.

Não há recado, palavra ou conselho,

Nada que faça encarar o espelho.

O poente chega com seu negro manto,

Ecos da noite, e fantasmas em canto,

Tomam a memória de tantos corações.

Quais são, de hoje, as fortes emoções,

E os vilões para, então, poder fugir?