Estoque de espíritos
Para que adquirir tanto conhecimento
se meu pranto primeiro deu-se no abrir dos olhos
analogia máxima do vir a ser,
do saber-se e do reconhecer ao que há
Fulguras, ó homem, florão da incerta!
Iluminado ao sol de um (nem tanto) novo mundo.
Negociante das ideias
comprador e vendedor
de espíritos.
O que é uma biblioteca senão,
um estoque de espíritos?
Dentro dessas contenções físicas do saber
transfiguram-se os homens
em máquinas disseminadoras da sapiência.
Quando lemos uma obra
é como se tocássemos numa alma.
Conseguimos sentir a textura de sua pele.
A pele-ideia, colada ao córtex.
O crânio do outro repousa em nosso ombro
contando-nos novidades
em feições signo-oculares
ou auriculares.
Propomos ao nosso eu morto
aquele que morreu no sono
(pois nascemos novos todos os dias),
um casamento com o todo;
com a intimidade
do todo
que é tão nossa...